terça-feira, 15 de abril de 2008

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NAS SÉRIES INICIAIS

Ednólia Carvalho Dourado1



Resumo: Durante muito tempo perdurou e ainda perdura em muitas escolas o modelo empirista e tradicional, no qual os educandos são submetidos a currículos rígidos, considerados um bloco único e homogêneo, não havendo qualquer preocupação com as diferenças individuais. Nesta lógica, o ensino de língua portuguesa em muitas escolas, principalmente da rede pública, se instaura e não leva em conta que a aprendizagem acontece num momento especifico, sob circunstâncias especificas, num contexto social e cultural específico, como parte da vida envolvente do individuo e do grupo.

Palavras-Chave: Ensino, Língua portuguesa e Concepção.

A forma como está estruturado o ensino de língua portuguesa em muitas escolas nas séries iniciais, não condiz com a realidade lingüística falada em nossa sociedade. Isso acontece porque ele obedece a uma gramática tradicional, cuja concepção de língua é abstrata e reducionista e tem como referência à língua escrita. Essa língua por sua vez não é concebida como sinônimo de falante, mas como algo estático que é inflexível, porque nunca muda. Ou melhor, ela não é percebida como a transposição da fala para a escrita.

Nestas escolas o ensino está totalmente desvinculado da realidade histórica, cultural e social dos seus falantes, porque eles têm dificuldades ao estabelecer a comunicação entre a fala e a escrita. Uma prova disso é que o ensino é direcionado para a utilização dos conhecimentos na escola e não fora dela. Por isso, o professor deve compreender que o mais importante para o aluno é saber qual é mesmo a função da língua na comunicação diária.

Este modelo de ensino está embasado nos modelos de riqueza e poder desde a Grécia antiga até os dias de hoje. Isso porque supõe que quem detém o poder é quem está certo e quem não detém, está errado. Portanto, acaba estabelecendo um certo preconceito lingüístico por desconhecer outras formas de falar dos falantes. Que segundo Cagliari,
É sabido que as reformas ortográficas tendem a beneficiar os falantes de um dialeto de prestígio, em prejuízo dos demais e, por isso, as ortografias—depois de tantas reformas—acabam sempre mais favoráveis aos falantes da assim chamada “norma culta”. Principalmente em uma sociedade como a nossa, em que há diferenças enormes entre as classes sociais e as pessoas são discriminadas pelos usos da linguagem.(CAGLIARI, P.17,1999)

Então, esta escola como um instrumento de reprodução ideológica, não está interessada em desenvolver uma educação em que os alunos possam refletir, opinar e estabelecer relações de criticidade, mas sim de desenvolver uma política dos dominantes. Nesta lógica se insere o falso discurso, no qual o ensino da gramática como simples transmissão e reprodução do conhecimento, é necessário porque é através dele que o aluno poderá vir a ser aprovado nos vestibulares ou nos concursos públicos. Sabemos que isso não é verdade, visto que neles também são trabalhadas técnicas de leitura e interpretação que a escola não prioriza. Segundo Jussara Hoffmann, o ensino neste sentido, precisa ser diferenciado, tendo em vista que nos exames seletivos há uma necessidade de afunilamento por parte das Universidade, uma vez que as mesmas não podem atender à todos. Porém,´com a escola acontece diferente, pois sua prioridade, pelo menos no que tange a LDB, nenhuma criança deve ficar de fora da escola.

A partir dessa observação, percebemos que, o que é realmente preciso é estabelecer parâmetros de equilíbrio com relação ao ensino: adotar medidas para se ensinar à gramática sem que esta fragmente o conhecimento. Mas para isso é preciso compreender que a escrita é apenas “um uso específico” da linguagem, que fora o aspecto gráfico, tudo o mais que se encontra num texto escrito só pode fazer sentido se tiver relação com a realidade oral, mas esse processo perpassa por um embasamento teórico:
A melhoria da qualidade do ensino em todas as suas dimensões, tem constituído um desafio constante para todos que vêm se preocupando com esta busca; mas ela tem se limitado apenas a mudanças de métodos, técnicas e seqüências curriculares. Não podemos descartar a possibilidade de que métodos, técnicas e propostas curriculares possam ter influências positivas na melhoria da qualidade. Mas uma mudança significativa só se concretizará através de uma mudança efetiva de postura, e de filosofia pedagógica. (RABELO, 2000, p. 47)

Há educadores que se preocupam em primeiro lugar, com o colega que vai ensinar aos seus alunos no ano seguinte, e com o que ele vai achar da sua turma depois de constatar que ele não “domina” as normas gramaticais. Esse é o peso principal no momento de optar por um ensino tradicional ou inovador.Todo o percurso do aluno durante o ano é dirigido às práticas mecânicas desse ensino e o efeito muitas vezes é um alto índice de reprovação, principalmente nas series iniciais.

A responsabilidade com um ensino voltado para atender às exigências de uma sociedade moderna do educando, parece não ser a preocupação principal dos educadores que agem dessa forma. Não estão preocupados se os alunos vão permanecer ou não na escola. O que importa é a sua “consciência tranqüila” de ter escapado das criticas dos colegas. Porém, não se trata de excluir o ensino de gramática nas escolas, ele é essencial. Pois ao contrário, o aluno será excluído da sociedade, mas trata de rever a forma como ele é ensinado pelo professor e a importância que tem para os alunos.


Portanto, o trabalhado com a gramática neste tipo de escola exige reflexão, pois o aluno passa anos na escola e sai dela sem desenvolver uma aprendizagem mais significativa. Por isso mesmo vivemos numa sociedade de analfabetos, seja absoluto, seja funcionais e o que é ensinado na escola não é o foco de interesse do aluno porque não faz sentido para ele.


Enfim, para que haja uma mudança significativa de concepção tanto de escola quanto de ensino, é preciso que se rompa com os velhos paradigmas e estabeleça uma relação entre o ensino e as metodologias. E isso deve partir do professor, porque nenhuma mudança de postura vai ocorrer no aluno se não passar primeiro pelo professor. É, a transformação que tanto almejamos na educação só será possível se o professor tomar consciência do seu papel. E Paulo Freire nos chama a atenção para o fato de que antes de tudo, o professor precisa refletir sobre sua prática.

REFERÊNCIAS:

CAGLIARI,Luis Carlos. Ortografia da Língua Portuguesa: A ortografia na escola e na vida. In. MASSINI- CAGLIARI, Glades. Diante das letras: A escola na alfabetização, Campinas, SP: Mercado de Letras, 1999.

RABELO. Edmar Henrique. Avaliação: novos tempos, novas práticas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
1 Graduanda do 8º Semestre do Curso de Pedagogia da UNEB.

Nenhum comentário: