terça-feira, 15 de abril de 2008

A ORTOGRAFIA NA ESCOLA E NA VIDA

Ednólia Carvalho Dourado[1]


CAGLIARI,Luis Carlos. Ortografia da Língua Portuguesa: A ortografia na escola e na vida. In. MASSINI- CAGLIARI, Glades. Diante das letras: A escola na alfabetização, Campinas, SP: Mercado de Letras, 1999.



O autor mostra que para escrever certas palavras segundo a ortografia vigente, muitas pessoas têm dificuldade mesmo que tenha uma prática intensa, pois às vezes, existem as dúvidas sobre palavras, cuja grafia, não causava hesitação, mas diante dessa confusão, às vezes, é preciso até consultar um dicionário.Segundo ele, até a procura a dicionário, representa uma constante dificuldade, visto que, em alguns dicionários há palavras que se encontram grafadas de uma forma e em outros a grafia delas é outra. Tornando assim, uma dificuldade tradicional, às vezes, para os melhores gramáticos. Mas, esclarece que essa dificuldade é menor para quem tem o hábito de leitura e escrita do que para quem não tem. .
O autor demonstra através de exemplificação, como às vezes, sentimos dificuldade diante de palavras, cujo plural ou o emprego de verbos, é duvidoso.E fala também de uma outra dificuldade que é a indefinição dos “usos regionais” de certas palavras. Acrescenta ainda que é comum encontrar formas variantes de uma mesma palavra, isto é, há palavras com mais de uma grafia,como: covarde e cobarde contacto e contato e etc. Mas, segundo esse mesmo autor, os dicionários também trazem palavras com seus respectivos significados, peculiares de regiões e constituindo assim, os “regionalismos” Que não é raro encontrar nos dicionários palavras “arcaicas” por serem consideradas de uso “popular”, e.diz que se o aluno escreve palavras desse tipo, a escola considera errado.
Cagliari fala que para se compreender devidamente o que é a ortografia, é preciso saber o que é a escrita e como ela funciona, porque a ortografia é apenas um dos usos de um tipo de escrita chamado “alfabético”.E que esse é apenas um dos tipos de escrita que usamos. Onde a escrita é uma representação da linguagem oral e tem por finalidade a leitura. Que para quem quiser ter acesso à mensagem do texto escrito, aos aspectos literários, enfim, ao discurso lingüístico, precisa transformar o escrito em oral através da leitura. E que quando se diz linguagem escrita, não se quer dizer que a escrita é totalmente diferente da linguagem oral, mas que é apenas “um uso específico” da linguagem. Mas, que fora o aspecto gráfico, tudo o mais que se encontra num texto escrito só pode ser entendido com relação ao sistema lingüístico da língua, o qual é, na sua essência, uma realidade oral. Ele fala que o valor atribuído à escrita nas sociedades é tão grande que pode levar uma pessoa a pensar que a escrita é que comanda a fala e não o contrário. E diz que a escrita na verdade, não passa de um uso sofisticado da própria linguagem oral, cristalizada na forma gráfica.
O autor mostra que temos dois tipos de escrita que são: a ideográfica e a fonográfica, deixando claro que se tivéssemos que usar apenas o sistema alfabético, ou somente o ideográfico, certamente, o uso da escrita na nossa sociedade seria muito mais difícil. Mas diz que , embora o objetivo da escrita seja a leitura, caracteriza-se por resistir a mudanças e alterações. Fala que nos sistemas de escrita ideográficos, a resistência é maior ainda do que nos sistemas alfabéticos .
Assim, ele aborda a unidade de escrita como sendo de uma importância muito grande para a ortografia, e diz que a palavra representa uma forma de segmentação da fala. E exemplifica que é muito raro uma pessoa falar palavras separadas por pausas. E que a identificação de palavras é o primeiro passo para se lidar com a ortografia. Que foi por causa dessa flutuação nos sistemas alfabéticos de escrita que se originou a idéia de se ter uma ortografia, mas que apesar de a ortografia ser uma forma de se grafarem as palavras, isto não significa que se tem, ao mesmo tempo,uma forma fixa de ler. Mas que fica a cargo de cada leitor decidir em que variedade da leitura ele vai ler.

A respeito da incongruência, o autor trás a defasagem entre sons e letras em palavras específicas e, as relações entre letras e sons dentro do próprio sistema de escrita, e essas mesmas diferenças nos sistemas alfabéticos. Quando aborda esse assunto, ele esclarece que é comum a cartilha deixarem o ensino do x para uma fase adiantada da alfabetização, porque é uma letra “complicada”, isto é, de difícil grafia nas palavras do português? Para mais adiante ele opinar que para a criança que vai aprender a ler e a escrever, qualquer coisa é difícil, e que não se justifica em termos lingüístico, a motivação para se preferir uma palavra ou outra na escrita, mas com base no interesse da criança.
Cagliari nos mostra que os problemas de ortografia aparecem somente quando o usuário da escrita fica numa situação de impasse diante de palavras que ele sabe que podem ser escritas com uma letra ou com outra. E que infelizmente, muitos métodos orientam-se pelas dificuldades dos adultos, deixando de lado o ponto de vista das crianças. Diz aqui que é melhor ensinar a criança a escrever primeiro e, depois, a escrever ortograficamente... deixa-la escrever o mais livre possível, como ponto de partida e, depois, fazê-la passar para outra grafia (a ortografia), pois, a pronúncia das palavras por si só não é suficiente para se chegar às formas ortográficas. Mas que os graus de dificuldades dependem muito da maneira como o ensino e a aprendizagem são conduzidos.

Que sendo assim, os alunos aprendem a escrever mais facilmente encarando as palavras como um todo e não com relação à estrutura do sistema ortográfico. Afirma que em primeiro lugar, é preciso ensinar a escrever e, somente depois, deve-se preocupar com os requintes da escrita (cursiva, caligrafia, ortografia...). Que a escola precisa aprender que a ortografia é um fim e não um começo, quando se ensina alguém a escrever. Que primeiro a criança precisa aprender a lidar com a escrita e, depois, preocupar-se em escrever ortograficamente. A escrita espontânea mostra o que o aluno sabe e o que não sabe, ao ponto que uma escrita dirigida pode revelar apenas se um aluno decorou ou não a grafia das palavras.
Concluindo, o autor fala que para se entender o que significa um sistema ortográfico, é interessante rever um pouco a própria história da nossa ortografia. Mostrando que as gramáticas antigas do século XVI propunham modos muito diferentes de escrever o português da época, e que as publicações seguiam o modo de escrever do autor, o qual grafava as palavras como achava melhor, em geral, seguindo alguns princípios. Mas que hoje, a escola deve tomar alguns cuidados em relação à ortografia como tudo o que se ensina, e que é preciso conhecer muito bem o assunto e transmiti-lo de maneira adequada. Neste caso,ele diz que os professores devem agir com muita propriedade, sabendo que é mais importante um aluno escrever um texto cheio de erros de ortografia do que uma lista de palavras ou de frases soltas, simplesmente porque é mais fácil acertar a ortografia. Diz que é sabido que as reformas ortográficas tendem a beneficiar os falantes de um dialeto de prestígio, em prejuízo dos demais e, por isso, as ortografias—depois de tantas reformas—acabam sempre mais favoráveis aos falantes da assim chamada “norma culta”. Principalmente em uma sociedade como a nossa, em que há diferenças enormes entre as classes sociais e as pessoas são discriminadas pelos usos da linguagem.
[1] Pedagoga, graduada pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

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